Avaliação ruim/péssima do governo Dilma
A porcentagem da população que considera o governo da presidente Dilma Rousseff ruim ou péssimo oscilou de 70% para 69% de dezembro para março, de acordo com pesquisa realizada pelo Ibope sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A parcela dos entrevistados que avalia a atual gestão como ótima ou boa também oscilou, de 9% para 10%. Já os que consideram o governo regular oscilaram de 20% para 19%. Todas as variações ocorreram dentro da margem de erro máxima de dois pontos porcentuais.
De acordo com a pesquisa, 82% dos entrevistados desaprovam a maneira de governar de Dilma em março, mesmo patamar desde setembro de 2015. A proporção dos que aprovam também se manteve em 14%. Não souberam ou não responderam 3%.
A CNI e o Ibope também perguntaram sobre a confiança em relação à presidente Dilma Rousseff. A parcela dos que não confiam nela oscilou de 78% em dezembro para 80% em março - o pior nível desde o governo José Sarney, quando em junho de 1989 a parcela que não confiava em Sarney era de 80%. O porcentual daqueles que confiam na pessoa da presidente permaneceu em 18%.
A pesquisa foi realizada entre os dias 17 e 20 deste mês, tendo sido iniciada quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi anunciado como ministro da Casa Civil e teve início uma série de manifestações na porta do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional. Foram ouvidas 2.002 pessoas em 142 municípios. O grau de confiança da pesquisa é de 95%. As informações são da Agência Estado.
Impeachment: aprovada oitivas de indicados
A comissão especial do impeachment aprovou nesta terça-feira, 29, requerimento para ouvir quatro convidados nos próximos dias, antes do fim do prazo de apresentação da defesa da presidente Dilma Rousseff. As oitivas foram aprovadas em votação simbólica, sem votos contrários.
Pelo cronograma apresentado, nesta quarta-feira, 30, serão ouvidos dois dos três autores do pedido de impeachment com base nas "pedaladas fiscais", os juristas Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal. No dia seguinte, serão ouvidos o atual ministro da Fazenda e ex-titular do Planejamento, Nelson Barbosa (Fazenda), e o professor de Direito Tributário da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Ricardo Lodi Ribeiro.
Os governistas querem trazer o advogado-geral da União, ministro José Eduardo Cardozo, quando for apresentada a defesa da presidente Dilma Rousseff, para fazer o embate "político-jurídico". O prazo da defesa da presidente se encerrará na próxima segunda-feira, 4. Se a apresentação de Cardozo for barrada, os aliados do governo ameaçam judicializar o processo por cerceamento do direito de defesa. "Possivelmente vamos atravessar a Praça dos Três Poderes", avisou o petista Wadih Damous (RJ).
Da "tropa de choque" do governo, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) fez uma nova questão de ordem ponderando sobre a realização das oitivas das testemunhas indicadas antes da manifestação da defesa. A deputada alegou que os debates devem ocorrer após a apresentação dos argumentos da presidente da República, cujo prazo de protocolo termina na segunda-feira. O vice-presidente da comissão, o tucano Carlos Sampaio (SP), se manifestou contrário ao pedido e destacou que o colegiado é apenas responsável pela admissibilidade da ação e não produtor de provas, que devem ser juntadas quando o processo for para o Senado. A questão de ordem foi acolhida, mas ainda não foi respondida pelo presidente do colegiado, deputado Rogério Rosso (PSD-DF).
O vice-líder do governo, deputado Paulo Teixeira (PT-RJ), também prepara outra questão de ordem pedindo nova notificação de Dilma. O petista argumenta que, se a comissão retirou do processo a delação premiada do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS), a presidente precisaria ser novamente citada com base no que permaneceu nos autos, de forma a ser reaberto mais uma vez o prazo de 10 sessões para apresentação da defesa. "Se ele (Rosso) negar, recorro e posso judicializar", afirmou.
Aliados de Cunha lideram processo de impedimento
Aliados do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vão ocupar os dois mais importantes cargos na comissão especial que analisará o pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT). Rogério Rosso (PSD-DF) foi eleito para a presidência e Jovair Arantes (PTB-GO), para a relatoria.
Cunha anunciou que os 65 parlamentares que irão decidir o futuro da petista haviam sido definidos. “Está eleita a comissão especial destinada a dar parecer quanto à denúncia contra a senhora presidente da República”, declarou. Foram 433 votos favoráveis e apenas um contra. Agora, Dilma tem dez sessões ordinárias, a partir de hoje, para apresentar defesa na Casa.
Dentre os integrantes da chapa, 35 são favoráveis ao início do processo. Outros 26 querem encerrar o caso e há quatro indefinidos (veja a relação na arte ao lado).
PT e PMDB, com oito integrantes cada, possuem as maiores representações. PSDB tem seis parlamentares e o PP vem na sequência, com cinco.
Imediatamente após a definição dos postos de comando, o primeiro-secretário da Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), foi ao Palácio do Planalto no fim da tarde para notificar a presidente do início do processo.
Na notificação, a Câmara incluiu a delação premiada do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS), a pedido dos autores, os juristas Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior. Inicialmente, o pedido de impeachment que foi acatado por Cunha, se referia apenas ao suposto crime de responsabilidade por causa das ‘pedaladas fiscais’.
Delcídio afirmou que Dilma tentou influenciar na libertação de réus da Operação Lava Jato, atuou na indicação de Nestor Cerveró à BR Distribuidora e ainda tinha conhecimento das condições da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que trouxe grandes prejuízos para a Petrobras.
A intenção de aditar o pedido de impeachment já havia sido anunciada por líderes da oposição, logo após a divulgação do documento pela imprensa. A estratégia era que os responsáveis pela representação fariam o pedido de juntada do documento à mesa diretora da Câmara. Na ocasião, o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, afirmou que tal ação tornaria o processo ilegal.
Líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) atribuiu o aditamento ao jogo político. Segundo ele, a questão será debatida pelos parlamentares. “Tudo isso estará dentro da comissão. São peças que já estão no tabuleiro. A comissão tem um fato, que é determinar se a presidente cometeu ou não um crime de responsabilidade. Pessoalmente, acredito que ela não cometeu”, concluiu Guimarães.
Requerimentos para que Dilma apresente pessoalmente a sua defesa, convocação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e convite ao relator da Operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), Teori Zavascki, e ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, estão nos planos dos oposicionistas.
Juiz do DF suspende posse de Lula
O juiz federal Itagiba Catta Preta Neto concedeu liminar há pouco em despacho que suspende a nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil. A decisão acolhe denúncia em ação popular protocolada na vara federal do Distrito Federal contra o governo federal.
No despacho, o juiz Catta Preta informa que a criação do cargo de ministro-chefe de Gabinete Civil é uma irregularidade por parte da presidente Dilma Rousseff. Ele entendeu que há indícios de cometimento de crime de responsabilidade na nomeação de Lula na medida em que ela teria o objetivo de garantir foro privilegiado ao ex-presidente que é investigado pela Operação Lava Jato e pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo).
Ele diz que "caso já tenha ocorrido a posse, suspendo seus efeitos até o julgamento final desta ação".
No documento, Catta Preta argumenta que a nomeação de Lula por Dilma "implica na intervenção direta" do Executivo nas atividades do Poder Judiciário e alega que isso configura crime de responsabilidade.
Ele pede que os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), têm, agora, que tomar "as providências inerentes aos respectivos cargos". Pela Constituição, crime de responsabilidade pode levar ao impeachment de um presidente.
Em entrevista à BandNews, o juiz afirmou que foi às manifestações de domingo (13) contra o governo, como "cidadão", e que isso não interferiu em sua decisão. Sobre uma postagem na rede social dizendo que Lula ser ministro seria "esculhambação", ele diz que foi uma "brincadeira". "Todo juiz decide de acordo com o que está no processo e na Constituição Brasileira. Ainda que eu tivesse feito uma previsão, não poderia decidir com base nisso."
A Advocacia-Geral da União já recorreu da decisão.
"Vamos derrubar essa liminar. Esperávamos por isso. Esperávamos uma batalha longa para garantir que o presidente Lula possa governar junto com a presidente Dilma, como ministro. Essas reações eram mais do que esperadas e só confirmam o acerto dessa nossa posição. Essa reação irada, raivosa, mostram o quanto nossos adversários foram pegos de surpresa", disse ex-ministro Gilberto Carvalho.
O deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) defendeu que Lula deva continuar no cargo. Segundo ele, "não são juízes de primeira instância que escolhem ministros no país". As informações são do UOL.
Lula substitui Jaques Wagner na Casa Civil
Depois de mais de sete horas de negociação direta com a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai assumir a Casa Civil no lugar de Jaques Wagner. A informação foi confirmada no final da manhã desta quarta-feira, 16, por interlocutores do Planalto, por lideranças petistas na Câmara e também por fontes ligadas ao ex-presidente.
Wagner já deixou a reunião no Alvorada e seguiu para Salvador, para celebrar o seu aniversário. Segundo fontes, Wagner assumiria uma chefia de gabinete do governo. A reunião entre Lula e Dilma no Alvorada, que começou por volta das 9h, acabou agora pouco e Dilma veio para o Palácio do Planalto.
Desde que tiveram início os rumores sobre Lula integrar o governo Dilma, a Casa Civil foi apontada como a principal alternativa para que Lula viesse para o governo. Ontem, entretanto, nas negociações a possibilidade apontada era que o ex-presidente assumisse a Secretaria de Governo, no lugar de Ricardo Berzoini.
O ministério de Dilma passará por uma pequena reforma com o ingresso de Lula, mas ainda não são conhecidos os detalhes das mudanças.
Dúvidas
Lula amanheceu o dia, depois da reunião de quatro horas e meia de ontem à noite com a presidente Dilma Rousseff, ainda muito reticente a assumir um cargo no Planalto. "Lula está em uma dúvida atroz. Ele está com muitas dúvidas sérias", reconheceram interlocutores do ex-presidente. Apesar disso, todos os integrantes do núcleo de articulação política do governo tentavam convencê-lo.
O apelo da presidente Dilma a Lula foi "dramático", atestam fontes do Planalto. A alegação da presidente é de que a presença de Lula na equipe seria uma espécie de "bala de prata" de sua gestão.
Também participaram da reunião no Palácio da Alvorada os ministros da Fazenda, Nelson Barbosa, e da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini.
O ministro Aloizio Mercadante, da Educação, protagonista do último problema enfrentado por Dilma por conta da delação premiada do senador Delcidio Amaral, chegou cedo ao Alvorada, mas não participou da mesma reunião de Dilma e Lula.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), anunciou pelo Twitter que o ex-presidente assumirá a Casa Civil. "Ministro (Jaques) Wagner, no dia do seu aniversário, mostra grandeza e desprendimento ao deixar a Casa Civil! Lula novo ministro da pasta!", escreveu. As informações são da Agência Estado.
PSDB analisa medidas contra nomeação de Lula
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou que a eventual ida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a um ministério na gestão Dilma Rousseff reforça a certeza dos brasileiros de que o governo tem hoje como única preocupação a "sobrevivência a qualquer custo".
"Enquanto o governo se mobiliza apenas em torno dos interesses do PT, os problemas reais dos brasileiros se avolumam sem perspectiva de solução. Mais uma vez, o governo serve ao PT e não ao País", criticou ele, por meio de uma rede social.
O tucano disse que o partido que preside analisa tomar medidas judiciais caso o ex-presidente seja efetivado no primeiro escalão de Dilma. As lideranças do DEM da Câmara e do Senado já decidiram que vão tentar barrar, no Judiciário, uma eventual nomeação de Lula.
Haddad investiu 8% em áreas de risco
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), que no domingo, 13, foi até Franco da Rocha prestar solidariedade às vítimas de enchentes, investiu nos últimos três anos 8% do orçamento previsto para intervenções em áreas de risco. Dados da execução orçamentária publicados no site da Prefeitura mostram que durante o período de seca - considerado o mais seguro para realização de obras de contenção -, a estimativa era gastar R$ 484 milhões, mas só R$ 39,4 milhões foram de fato liquidados.
A destinação de recursos para evitar enchentes também ficou aquém do previsto durante os três primeiros anos da gestão Haddad. Segundo a Secretaria Municipal de Finanças e Desenvolvimento Econômico, foi investido R$ 1 bilhão, ante R$ 2,7 bilhões orçados - o que representa 38% do total.
De acordo com a Prefeitura, recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não foram repassados pelo governo Dilma Rousseff, o que explica o baixo investimento. Apesar disso, a gestão Haddad afirma que ampliou os investimentos na área de drenagem, na comparação com 2011 e 2012, os últimos anos do governo Gilberto Kassab (PSD).
IPT
São Paulo tem 407 áreas de risco, segundo levantamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de 2010. No total, 26 das 32 subprefeituras constam do mapa. Somados, esses locais compreendem 13,5 km2, o que corresponde a 0,9% do território da cidade. Das áreas identificadas, 176 estão na zona sul, 107 na zona norte, 100 na zona leste e 24 na zona oeste.
A regional que concentra o maior número de locais com possibilidade de escorregamentos é a Subprefeitura de M?Boi Mirim, na zona sul, com 50 endereços. Foi lá que, na madrugada de sexta-feira, houve um deslizamento de terra que atingiu quatro casas, deixando quatro pessoas feridas no Jardim Ângela. Outras 28 pessoas ficaram desabrigadas e foram cadastradas para atendimento emergencial.
A gestão Haddad diz ter removido 12 mil pessoas de áreas de risco de 2013 pra cá. Nos últimos três anos, foram distribuídos 22,9 mil folhetos e 3.180 cartazes em todas as subprefeituras atingidas. O material dá informações, segundo a Prefeitura, sobre como proceder durante e depois de situações de enchentes, prioritariamente nas áreas de riscos alto e muito alto (R4) que, em 2010, reuniam ao menos 115 mil pessoas.
No início de 2013, no entanto, Haddad chegou a anunciar que firmaria um novo acordo com o IPT para monitoramento diário das áreas de risco. O contrato não vingou e, agora, a Prefeitura oferece capacitação para 144 técnicos municipais de diversas áreas assumirem a função. Além da atualização do mapa das áreas de risco geológico, o governo promete fazer o primeiro levantamento das áreas na capital de risco hidrológico (para inundação). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Dilma luta para sobreviver após manifestações
A presidente Dilma Rousseff amanhece nesta segunda-feira mais encurralada politicamente do que nunca, um dia após manifestações de proporções históricas que pediram sua saída do poder pelas ruas de todo o país.
Mais de três milhões de pessoas, 1,4 delas em São Paulo, segundo os números da polícia, formaram no domingo uma impressionante maré opositora verde e amarela que tomou as ruas de um Brasil atingido pela recessão econômica e cansado de ver as chocantes revelações sobre a fraude da Petrobras mancharem de corrupção a elite política e econômica do país.
A oposição esperava uma mobilização em massa nas ruas para fazer pressão sobre os deputados indecisos, que deverão se pronunciar a favor ou contra o impeachment da presidente, reeleita em 2014.
E as ruas estavam repletas de brasileiros.
"O pior cenário"
O dramático fim de semana de Dilma já havia começado mal: no sábado, o PMDB, pilar imprescindível da coalizão de poder dirigida pelo Partido dos Trabalhadores (PT), deu como prazo 30 dias para decidir se seguirá no governo ou abandonará a presidente à própria sorte.
O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) está muito dividido, com alguns membros favoráveis em manter o pacto de governo e uma corrente cada vez mais numerosa que apoia um divórcio potencialmente fatal para Dilma.
Em sua convenção, o PMDB reelegeu como seu líder o vice-presidente da República, Michel Temer, que será o encarregado de assumir a presidência até as eleições de 2018 em caso de impeachment da presidente.
"Foi um fim de semana muito ruim para o governo. As manifestações se mostraram muito poderosas, maiores que em 2015. É o pior cenário possível", disse à AFP Sergio Praça, cientista político da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.
"O ocorrido terá, sem nenhuma dúvida, um impacto real sobre o processo de impeachment. O preço de apoiar agora este governo é muito oneroso e os políticos captam isso. Ninguém vai querer se afundar junto ao PT", acrescentou.
Dilma Rousseff vive desde dezembro sob a ameaça de um impeachment impulsionado pela oposição no Congresso, que acusa seu governo de ter maquiado as contas públicas em 2014, ano de sua reeleição.
Freado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o processo ficou congelado pelo recesso de verão, depois pelo Carnaval... Mas na quarta-feira o organismo deve fixar definitivamente as regras do procedimento.
O presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), adversário de Dilma, já anunciou que só espera a autorização do Tribunal para retomar as hostilidades.
A presidente, por sua vez, se reuniu com os principais membros do governo na noite de domingo em Brasília para analisar a situação.
No entanto, a batalha não está necessariamente perdida para Dilma. Especialmente porque a oposição não encontrou a fórmula para um eventual "pós-Dilma".
Aécio Neves, derrotado por Dilma na última eleição, não é um adepto incondicional de um impeachment, que colocaria automaticamente o PMDB no poder até 2018.
A carta Lula
Na semana passada, Aécio, presidente do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) preferiu convidar Dilma a renunciar, "em um gesto magnânimo, de generosidade pelo país".
Outra opção que beneficiaria Aécio seria se a justiça eleitoral cassasse a chapa de Dilma e do vice-presidente Temer por terem financiado supostamente sua campanha de forma ilegal com fundos desviados da fraude na Petrobras.
Mas o processo em andamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é ainda mais lento, e de resultado mais incerto, que o do impeachment.
Dilma, por sua vez, afirmou categoricamente na sexta-feira que não tem nenhuma intenção de renunciar.
A presidente, no entanto, tem apenas uma carta para tentar mudar a situação: seu mentor e antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). Na sexta-feira, Dilma afirmou que seria "um grande orgulho" contar com ele em seu governo.
Ex-metalúrgico e líder sindical, presidente do milagre sócio-econômico brasileiro da década passada, Lula possui um carisma e um talento político incomparáveis no Brasil.
No entanto, seus recentes problemas judiciais abalaram sua imagem. E sua entrada no governo, que o protegeria da justiça comum, poderia ser interpretada como uma fuga.
Lula, que cogita ser candidato à presidência em 2018, ainda não deu sua resposta. (AFP)
Denúncia do MP pede prisão preventiva de Lula
O MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) pediu a prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) junto à denúncia de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica na aquisição do triplex do Guarujá, no Litoral. A Promotoria acusa o ex-presidente de ocultação de patrimônio. O petista nega as ilegalidades e reafirma não ser proprietário do imóvel, acusando o órgão de ser parcial e usar a ação criminal para fins políticos.
Segundo a acusação, a prisão preventiva do ex-presidente se faz necessária porque “ele (Lula) movimentará toda sua ‘rede’ violenta de apoio para evitar que o processo crime que se inicia com a presente denúncia não tenha seu curso natural, com probabilidade evidente de ameaças a vítimas e testemunhas e prejuízo na produção das demais provas do caso”, afirma a denúncia, em referência ao confronto entre governistas e antipetistas após Lula ter sido levado coercitivamente para depor na 24ª fase da Operação Lava Jato, sexta-feira.
A ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva e um dos filhos do casal, Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, também estão sendo acusados de participação no esquema de lavagem de dinheiro. A prisão preventiva se estende ao ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, a dois executivos da OAS: Fábio Hori Yonamine e Roberto Moreira Ferreira, à ex-diretora da Bancoop Ana Maria Érnica e ao ex-presidente da cooperativa Vagner de Castro.
É a primeira vez que a prisão de Lula é solicitada formalmente à Justiça. A denúncia foi entregue na quarta-feira à 4ª Vara Criminal de São Paulo, sob a responsabilidade da juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira, que decidirá se acata ou não as acusações. Se aceitá-las, Lula passa a ser réu – não há previsão de quando isso pode acontecer.
Segundo a acusação, a família do ex-presidente foi beneficiada com o triplex no Guarujá. A unidade, integrante do condomínio Solaris, está relacionada a diversos empreendimentos da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários), que foram transferidos à construtora OAS após a cooperativa ter ficado insolvente. De acordo com a peça da acusação, a transferência dos empreendimentos – parte deles inacabadas – gerou “prejuízos significativos, tanto materiais quanto morais, a milhares de famílias e, em contrapartida, produziu atos nucleares de lavagem de dinheiro para ocultar um triplex” de Lula e dona Marisa.
A falsidade ideológica, de acordo com a Promotoria, ficou configurada pelo fato de o ex-presidente ter, segundo o MP, declarado em 2015 outro apartamento que não lhe pertencia. Lula sempre negou ser dono do triplex, mas dizia ter adquirido cotas de projetos da Bancoop. Ontem, os promotores Cássio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique de Moraes Araújo apresentaram à imprensa, durante coletiva concedida na sede do MP-SP, no Centro da Capital, os motivos das denúncias. A acusação envolve, ao todo, 16 figuras ligadas à cúpula da Bancoop e da OAS.
Se condenados, a pena para os crimes de lavagem de dinheiro varia de três a dez anos e de um a três anos de detenção para o caso de falsidade ideológica.
Em nota, o Instituto Lula e a defesa do ex-presidente alegaram que o pedido de prisão preventiva é “prova cabal de que a violação ao princípio do promotor natural” e destaca que a Promotoria buscou “amordaçar um líder político, impedir a manifestação do seu pensamento e até mesmo o exercício de seus direitos”.
Promotor diz haver indícios de que há mais envolvidos do PT no esquema
Ao apresentar denúncias contra o ex-presidente Lula e sua família, o promotor José Carlos Blat disse que há indícios de que outras “pessoas intimamente atreladas ao PT” foram beneficiadas no esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio em empreendimentos da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários).
A Promotoria mencionou ter concluído que o ex-presidente Lula é o proprietário do triplex no Guarujá através de “provas testemunhais e documentais”. Segundo Cássio Conserino, “mais de duas dezenas de testemunhas” relataram que o apartamento era destinado ao petista. “Nós escutamos corretores da época da venda do imóvel e todos disseram que a mascote da venda daquelas unidades era o ex-presidente. Eles diziam para os eventuais compradores que poderiam jogar bola com o (então) presidente, poderiam passear com o presidente, enfim, poderiam ter segurança maior por conta da presença da figura ilustre do ex-presidente no condomínio. Então, é uma soma de testemunhas e documentos”, frisou o promotor.